
Já dizia Eddie Jordan que na Fórmula 1 não há milagres e os primeiros passos do herdeiro do tricampeão só comprovam isso. Para que Piquet chegasse a esse momento de cobrança, até mesmo cruel, somaram-se alguns fatores. Em primeiro lugar, o peso do nome. Pesa, sim. Seja Piquet, Lauda, Mansell, Prost, Hill e outros mais. Se esses herdeiros tiveram nas próprias casas o incentivo maior para suas carreiras, aos olhares do mundo eles perdem o direito de errar. Potencializam os erros e minimizam conquistas.
Outro aspecto bastante forte nessa trajetória inicial de Piquet na Fórmula 1 é o fato de o chassi Renault R28 não ser o carro dos sonhos do bicampeão Fernando Alonso, duplamente vitorioso na casa francesa, antes da perturbadora experiência na McLaren, em 2007. Se ele próprio, fortalecido e experiente, já demonstrou desassossego com o equipamento que tem em mãos, o que dirá de um novato? É nesse ponto que começam a surgir os erros. O piloto acaba andando sempre no limite e muito mais exposto a tropeços.
Ao mesmo tempo em que é real a necessidade de aprendizado e aplicação em cada detalhe do carro e de sua dinâmica de funcionamento, o piloto muitas vezes se vê à mercê de experimentos do grupo de engenharia, cujas ações nem sempre estão identificadas com as idéias do piloto sobre o acerto ou mesmo com seu estilo. Na pista, o negócio é acelerar e mostrar serviço. Logo, a pouca experiência e a tentativa de tirar o máximo de um carro sem equilíbrio geram incidentes.
Bastou uma seqüência de resultados negativos para que o piloto recebesse uma espécie de carimbo de “incapaz” na testa. Nada mais cômodo para quem está de fora aplicar-lhe esse rótulo. A complexa engrenagem da Fórmula 1 não permite as análises simplistas que normalmente são colocadas ao dispor do público. Poucos são aqueles que a conhecem de fato. O torcedor, porém, precisa ter em mente que ganhar ou perder faz parte do jogo e piloto não é nenhum ser sobrenatural.
Está sujeito, como qualquer outro, a altos e baixos. Também não é nenhum assunto de Estado a trajetória de A ou B na Fórmula 1. É uma profissão. Só não se pode dizer que é “como outra qualquer”, por razões óbvias. Entretanto, a própria Fórmula 1 tratará de destronar Nelson Ângelo Piquet se ele não conseguir se sustentar na categoria. Mas isso leva tempo e o esportista tem de ter tranqüilidade, apoio, suporte técnico e condições para mostrar o que sabe. E ele sabe muito, já provou isso.
Se Piquet tem esse apoio dentro da equipe, embora os envolvidos garantam que sim, fica realmente muito difícil de saber. Somente a intimidade da convivência com o mundo da Fórmula 1 é que permite essa percepção. O resto é chute, palpite, opinião. Mas qualquer que seja a situação dele na Renault, vale destacar a necessidade de todo um planejamento para desenvolver o trabalho e não ser perturbado com bobagens. Ele pode até dizer que não, mas dificilmente um garoto como com a sua idade - 22 anos - consegue passar imune, sem ser atingido com tantos boatos. Então, como diria o presidente Lula, “deixem o homem trabalhar”. Os resultados virão, afinal, a sua história familiar pode até ter contribuído favoravelmente, mas seguramente Nelson Angelo Piquet não foi parar na Fórmula 1, ao lado de um bicampeão e dirigido por Flavio Briatore, pela cor dos seus olhos.
Matéria publicada originalmente na MOTORSPORT BRASIL nº 29, com fotos da agência italiana www.photo-4.com
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